ESCUTA PROTEGIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL: MARCOS HISTÓRICOS E POLÍTICO-LEGAIS NO BRASIL
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Resumo
O estudo tem o objetivo de conhecer e analisar os marcos históricos e político-legais brasileiros que tratam sobre escuta
protegida de crianças e adolescentes em situação de violência sexual, no período de 1990 a 2024. Nesse sentido, realizouse pesquisa descritiva, documental, com abordagem qualitativa, que utilizou como fonte de dados, leis federais, políticas,
decretos, resoluções e demais normativos publicados no Brasil. A análise foi engendrada sob a égide da Doutrina da
Proteção Integral. Foram selecionados 24 normativos; os setores envolvidos foram, Câmara dos Deputados, Childhood
Brasil, Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA),
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Ministério da Saúde, Ministério dos Direitos Humanos e da
Cidadania, Presidência da República, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
A maioria dos documentos foi publicada pela Presidência da República (11), CNJ (4), Childhood Brasil (3), CONANDA
(3) e Ministério da Saúde (3). Atesta-se, pois, a centralidade e importância do robustecimento dos instrumentos políticolegais e dos aparatos normativos, de tal maneira que impulsionem o refinamento de políticas públicas firmadas na escuta
qualificada, protetiva, preventiva da revitimização. Deveras, a escuta protegida circunscreve atitude ontológica que
valoriza crianças e adolescentes vitimados; dignifica suas idiossincrasias enquanto pessoas, iguais-diferentes dos adultos.
Afinal, todos os profissionais da rede intersetorial representam agentes de proteção, sintônicos com os preceitos e as
medidas do ECA; em prol do acolhimento empático, do diálogo respeitoso, da escuta dialógica das narrativas dos sujeitos
assistidos.
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